segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Sobre livros,  apego, desapego e amor.


Franklin Mattos

Olho meus livros, hoje em bem menor quantidade do que eu possuía a cerca de 4 anos atrás. Foram doados uns 2 mil e quinhentos livros, talvez uns três mil.  Possuindo uma vasta biblioteca particular de quase 12 mil títulos, fui aos poucos desfazendo. Primeiro a de biologia geral, zoologia, ictiologia em especial, ecologia, pedagogia,  educação ambiental, ciências sociais. 

Nossa como me doía desfazer desses livros que comprei desde o tempo de estudante, comendo sanduíches para poder importar. Depois os que eu comprei diretamente nos locais onde estudei.

Realmente, para desespero de muitos, confesso que li pelo menos 75% desses livros. Um gosto acirrado de leitura que herdei de meu pai. As estantes cheias, arrumadas por categorias. Levei alguns para o Grupo de Defesa Ecológia – GRUDE. Muitos livros emprestados, muitos levados sem autorização. Resolvemos fechar a ONG. Surge a primeira decisão de doar isso tudo. Ali existiam uns 5 mil livros. Mas para quem?

Doei uma vez 800 livros para a Fraternidade Francisco de Assis e um belo dia a biblioteca foi desfeita e os livros vendidos em um bazar da própria instituição. Foi meu primeiro exercício de desapego, e, até hoje, recompro os livros que eu doei.

Todas as decisões de doar refletiam uma simples noção de apego: “meus livros” não podiam ir para qualquer lugar, para qualquer pessoa, tinham história e estórias. Relutei, e muito, mas a falta de espaço não me deixou alternativa.

Pasmo, eu descobri que muitas “bibliotecas públicas não aceitam o acervo, por ordens do prefeito”. Outras por falta de espaço. Ou por não terem profissionais e, como não poderia deixar de ser, em algumas um “conhecido” tinha um projeto social que aceitava livros doados e ”vendia” por R$1,00, o que era balela, pois conhecendo os poucos donos de sebos do Rio de Janeiro foi fácil descobrir que não bem assim.

Doar os livros hoje é bem mais fácil, aliás, me da uma alegria imensa ver esse ou aquele livro circulando por ai, emprestado, numa proposta de “leia e passe adiante”. Os jovens DeMolays e os membros da Juventude Espirita são meus maiores recebedores de livros.
Essa pequena introdução sobre livros me surgiu  depois de vivenciar uma experiência na juventude.

Já dizia Buda que o apego é a origem do sofrimento. E ele tem razão – afinal, a maioria sequer sabe que ele existe; e quando descobre, ainda fica sabendo que ele está em tudo!
Ora, todos nós queremos ser felizes. Cada um tem seu conceito de felicidade, todos fazem enorme quantidade de esforço para serem felizes. Surge então uma grande dúvida, entre SER e TER felicidade, aliás um grande dilema da sociedade é entre o “ser” e o “ter”.

Ser feliz ou ter felicidade, um dilema tão constante em qualquer coisa, na base do ser isso ou ter isso, geram infelicidade.  Se não fosse assim, as pessoas em sua grande maioria,  não seriam tão infelizes.

Elas não apenas elas são extremamente infelizes, como elas também fazem as pessoas ao seu redor infelizes também. Muitas pessoas têm uma grande quantidade de dor em suas vidas, que elas tentam aliviar da maneira que puderem.

Estamos sempre apegados a nossos corpos que estão ficando velhos, ou aos nossos bens, a nossa imagem pessoal, ou ainda como os outros me enxergam, será que serei ou sou aceito aqui. Como se não bastasse, tem-se ainda a noção de propriedade: isso me pertence, comprei isso, tenho isso ou aquilo, o meu é de última geração e assim caminha a humanidade.

Ora satisfação é muito importante, motivadora, mas numa sociedade de consumo, nossas relações de afetividade são também levadas a superficialidade do apego. Surge então o sofrimento, como doença corrosiva da alma.

O Buda ensinou que a razão essencial para essa doença dentro de nós é o nosso apego, nossa mente cheia de desejos que são baseados em nossa ignorância essencial. Ignorância do que?

Basicamente, a ignorância de compreender a forma como as coisas realmente são. Portanto, estamos sempre agarrando algo externo. Nós não percebemos nossa interconexão interior, e nos identificamos sempre com esse sentimento do eu e do outro.

Agora, assim como temos a ideia do eu e do outro, temos, portanto, a ideia de querer adquirir o que é atraente e afastar o que queremos evitar. Então este sentimento de vazio interior tem de ser preenchido, e cedemos ao apego, surgindo a dor.

Numa relação afetiva e amorosa geralmente se deseja o carinho, a atenção, a dedicação, a doação para minha satisfação pessoal. Isso é apego, não amor. Quando uma pessoa não recebe ou tem o que aspira surge uma desilusão. Mágoas, dores e ciúmes. Assim a DOR surge e aumenta, ou seja, sofrimento constante. No amor eu desejaria que você fosse feliz, sendo como é, ao meu lado, fazendo o que é de seu agrado e sua natureza.

Mas infelizmente, é claro, só pensamos em nossa desilusão, que o nosso apego às coisas e às pessoas, que confundíamos como amor,  que nos traria a felicidade, gerou sofrimento.
Fazemos isso o tempo todo. Estamos apegados às nossas posses, estamos apegados às pessoas que amamos, estamos apegados à nossa posição no mundo, e à nossa carreira e ao que alcançamos. Pensamos que segurando essas coisas e essas pessoas firmemente teremos segurança, e que a segurança nos dará felicidade. Essa é a nossa desilusão fundamental, pois é o próprio apego que nos torna inseguros, e a insegurança que nos dá essa sensação de constante mal-estar.

Não me faz assim, não me dá isso, não corresponde ao que eu faço por você, eu quero dessa forma e desse jeito. . . Ninguém nos prende com correntes a esta roda. Nós nos agarramos a isso, nós é que seguramos com todas as nossas forças. O caminho para sair da roda é apenas deixar ir.

Essa apreensão, essa mente apegada é a causa do nosso sofrimento, mas estamos muito enganados, porque pensamos que a nossa ganância e nossos desejos e os nossos apegos apontam para as fontes de felicidade.

Por mais que neguemos, nós realmente acreditamos que de alguma forma ou de outra, se todos os nossos desejos forem realizados, teremos uma grande felicidade. Mas o fato é que nossos desejos nunca podem ser todos realizados. Desejos são infinitos.

A prática mostra, infelizmente, que as pessoas estão dispostas a tudo, menos a abrir mão de sua própria dor! Estão tão identificadas com seus papéis de vítimas do mundo que a simples possibilidade de uma mudança parece assustadora… Quem pode dar fim a este ciclo? Apenas você.

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