Sobre livros, apego, desapego e amor.
Franklin Mattos
Olho meus livros, hoje em bem menor quantidade do
que eu possuía a cerca de 4 anos atrás. Foram doados uns 2 mil e quinhentos
livros, talvez uns três mil. Possuindo
uma vasta biblioteca particular de quase 12 mil títulos, fui aos poucos
desfazendo. Primeiro a de biologia geral, zoologia, ictiologia em especial,
ecologia, pedagogia, educação ambiental,
ciências sociais.
Doei uma vez 800 livros para a Fraternidade
Francisco de Assis e um belo dia a biblioteca foi desfeita e os livros vendidos
em um bazar da própria instituição. Foi meu primeiro exercício de desapego, e,
até hoje, recompro os livros que eu doei.
Pasmo, eu descobri que muitas “bibliotecas públicas não aceitam o acervo, por ordens do prefeito”. Outras
por falta de espaço. Ou por não terem profissionais e, como não poderia deixar
de ser, em algumas um “conhecido” tinha
um projeto social que aceitava livros doados e ”vendia” por R$1,00, o que era balela, pois conhecendo os poucos
donos de sebos do Rio de Janeiro foi fácil descobrir que não bem assim.
Essa pequena introdução sobre livros me surgiu depois de vivenciar uma experiência na
juventude.
Já dizia Buda que o apego é a
origem do sofrimento. E ele tem razão – afinal, a maioria sequer sabe
que ele existe; e quando descobre, ainda fica sabendo que ele está em tudo!
Ora, todos nós queremos ser felizes. Cada um tem
seu conceito de felicidade, todos fazem enorme quantidade de esforço para serem
felizes. Surge então uma grande dúvida, entre SER e TER felicidade, aliás um
grande dilema da sociedade é entre o “ser” e o “ter”.
Elas não apenas elas são extremamente infelizes,
como elas também fazem as pessoas ao seu redor infelizes também. Muitas pessoas
têm uma grande quantidade de dor em suas vidas, que elas tentam aliviar da
maneira que puderem.
Estamos sempre apegados a nossos corpos que estão ficando velhos, ou aos
nossos bens, a nossa imagem pessoal, ou ainda como os outros me enxergam, será
que serei ou sou aceito aqui. Como se não bastasse, tem-se ainda a noção de
propriedade: isso me pertence, comprei isso, tenho isso ou aquilo, o meu é de
última geração e assim caminha a humanidade.
Ora
satisfação é muito importante, motivadora, mas numa sociedade de consumo,
nossas relações de afetividade são também levadas a superficialidade do apego.
Surge então o sofrimento, como doença corrosiva da alma.
O Buda ensinou que a razão essencial para essa
doença dentro de nós é o nosso apego, nossa mente cheia de desejos que são
baseados em nossa ignorância essencial. Ignorância do que?
Basicamente, a ignorância de compreender a forma
como as coisas realmente são. Portanto, estamos sempre agarrando algo externo.
Nós não percebemos nossa interconexão interior, e nos identificamos sempre com
esse sentimento do eu e do outro.
Agora, assim como temos a ideia do eu e do outro,
temos, portanto, a ideia de querer adquirir o que é atraente e afastar o que
queremos evitar. Então este sentimento de vazio interior tem de ser preenchido,
e cedemos ao apego, surgindo a dor.
Numa relação afetiva e amorosa geralmente se deseja o carinho, a atenção, a dedicação,
a doação para minha satisfação pessoal. Isso é apego, não amor. Quando uma
pessoa não recebe ou tem o que aspira surge uma desilusão. Mágoas, dores e
ciúmes. Assim a DOR surge e aumenta, ou seja, sofrimento constante. No amor eu
desejaria que você fosse feliz, sendo como é, ao meu lado, fazendo o que é de
seu agrado e sua natureza.
Mas infelizmente, é claro, só pensamos em nossa
desilusão, que o nosso apego às coisas e às pessoas, que confundíamos como
amor, que nos traria a felicidade, gerou
sofrimento.
Fazemos isso o tempo todo. Estamos apegados às
nossas posses, estamos apegados às pessoas que amamos, estamos apegados à nossa
posição no mundo, e à nossa carreira e ao que alcançamos. Pensamos que
segurando essas coisas e essas pessoas firmemente teremos segurança, e que a
segurança nos dará felicidade. Essa é a nossa desilusão fundamental, pois é o
próprio apego que nos torna inseguros, e a insegurança que nos dá essa sensação
de constante mal-estar.
Não me faz assim, não me dá isso, não corresponde
ao que eu faço por você, eu quero dessa forma e desse jeito. . . Ninguém nos
prende com correntes a esta roda. Nós nos agarramos a isso, nós é que seguramos
com todas as nossas forças. O caminho para sair da roda é apenas deixar ir.
Essa apreensão, essa mente apegada é a causa do
nosso sofrimento, mas estamos muito enganados, porque pensamos que a nossa
ganância e nossos desejos e os nossos apegos apontam para as fontes de
felicidade.
Por mais que neguemos, nós realmente acreditamos
que de alguma forma ou de outra, se todos os nossos desejos forem realizados,
teremos uma grande felicidade. Mas o fato é que nossos desejos nunca podem ser
todos realizados. Desejos são infinitos.
A prática mostra, infelizmente, que as pessoas
estão dispostas a tudo, menos a abrir mão de sua própria dor! Estão tão
identificadas com seus papéis de vítimas do mundo que a simples possibilidade
de uma mudança parece assustadora… Quem pode dar fim a este ciclo? Apenas você.