quinta-feira, 21 de julho de 2011

017_Enfermaria 204_ Santos Intestinos

Miste M.
M de merda mesmo.

Fratura séria, dois braços, queda de escada. Caiu quando fazia uma obra, na verdade um telhado. Os equipamentos de segurança, bem ele nem sabia direito o que era isso. Desde pequeno, junto com pai, nordestino macho, de Caruaru. Estava acostumado a vida dura, sofrida.

Chegaram ao Rio no início dos anos 80, ele já adolescente.

Bom, para variar o mesmo de sempre: aguardamos uma vaga na cirurgia, sempre ficamos 24 horas em jejum, sem uma gota de água, aí um bêbado dirigindo bate em alta velocidade e toma a nossa frente.

Cena hilária.

Mister M estava a quatro dias na 204. Fez cirurgia, tipo umas 6 horas. Saiu, gemeu, gritou, xingou, reclamou, pediu ajuda, lá estávamos nós, os de sempre.

Com seus dois braços imobilizados, dormir era um problema, comer, tomar banho e ir ao banheiro para necessidades mais básicas do ser humano.

Urinar já era um suplício.

A sacanagem corria solta.

- Não vai quer que eu vá aí sacudir?

- A tira as calças e sai pelado.

- Segura até a hora do banho!

Mas um dia não deu!

A saudável comida local, depois de 24 horas de jejum, come aqui, pega o que sobrou ali, só podia dar nessa situação

Um friozinho na barriga, uma dorzinha aqui, um borbulhar intestinal acolá, flatulências generalizadas, cantantes, uivantes, pedintes, assoviadoras, retumbantes ou como rufar dos tambores em cenas de fuzilamento em filmes americanos.

Não deu tempo.

A fétida prova contundente da humilhante fragilidade da dignidade humana escorria entre as pernas. Uma acastanhada substância descia lentamente, entre gritos, vômitos, risadas e janelas fechadas.

A Enfermeira Nazista já veio avisando que não entraria naquele lugar,, que não ganhava para trabalhar assim,
que não ia cuidar dele. Se alguém quisesse que limpasse e como Miss M, sumiu por quatro longos dias, em plantões de 12 X 48 horas.

Bom, Mister M ali, querendo sumir, caminhava de um lado ao outro no banheiro escuro, a cabeça e os dois braços imobilizados, quando para cima, lembravam o triste e solitário cactus do sertão nordestino.

Finalmente um funcionário "tercerizado" na limpeza lavou e perfumou o ambiente.

Não ficou lá aquelas coisas, mas entre risos e peidos, dormimos todos.

Assim foi a noite e o dia seguinte.

Dois dias depois Mister M recebeu alta.

No dia seguinte estava lá trazendo bombons escondidos!

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