sábado, 5 de dezembro de 2009

005_Enfermaria 204_ Horrores

Horrores
Não achei título melhor!
Como a maioria dos pacientes chega pela emergência, são direcionados ao politrauma, aguardando vaga nas enfermarias, para realizarem exames e continuarem aguardando, agora a vaga para a cirurgia. Assim, pequenos laços de solidariedade já são criados nesta espera.
Percebi que aquele sobe e desce de médicos da ortopedia, que desaparecem sem mais nem menos, é para atender aos inúmeros acidentes graves. Chegam todas as horas ambulâncias, exigindo esforços de diferentes especialistas para “salvar” jovens drogados ou bêbados que bateram de carro ou atropelados por avanço de sinal.
São os mesmo que se dividem entre o ambulatório da emergência onde se encontra a senhora com carinha de avó que foi jogada do ônibus. Aquele mesmo ônibus que arrancou propositalmente e nós nos omitimos.
Pessoas simples, dos tombos nas calçadas irregulares como o meu, enfim uma gama enorme de seres humanos com fraturas de bacia, fêmur, braços e ombros.
Como eu estava apenas com o braço imobilizado, podia andar. Isso era uma dádiva, uma alegria ímpar, não ficar deitado 24 horas, pode mexer-me, nunca valorizei tanto essas possibilidades.
Comecei como “auxiliar de manivela de cama” na base do suspende aqui, abaixa ali. Depois, fui me sentindo mais útil, buscando água, recolhendo bandejas de alimentação, jogando lixo nos coletores, dentre outras pequenas mais dignificantes funções.
Por esse motivo conseguia levar um livro ao amigo de alguém na enfermaria “203” ou trazer algo de um internado na “205”, que incluíam sobras de frutas, sobremesas e, pasmem, cigarros!
Fazendo amizades fui descobrindo uma realidade além das estatísticas e escutei esses casos ou vivi cada um deles em oito dias.
É isso mesmo, coisas assustadoras se descortinavam diante de meus olhos, outra grande lição recebida, pois tomei conhecimento de uma realidade invisível e alarmante na nossa sociedade.
Muitos jovens de 16 a 25 anos estavam internados por acidente de motos, por alta velocidade, dirigirem bêbados ou por conta motoristas que criminosamente jogam os carros contra as motos.
Vi como acidentes de carro ou de moto geram dois grupos de doentes que sofrem muito: os internados e os parentes dos internados.
Descobri pessoas que estão tratando de lesões a quase dois anos, jovens que desperdiçam suas vidas e de seus familiares, muito dos quais trabalhadores informais, como entregadores e mototaxistas, largados irresponsavelmente por seus “empregadores” que saem impune disso tudo!
Acidentes domésticos também estão em grande índices ali representados: chão molhado, tapetes escorregadios, casas cheias de objetos, chinelos mal calçados, meias em pisos deslizantes, dentre outros.

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