quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

008_Enfermaria 204_ Roupa Cidadã

Morador de rua.
Bebeu um pouquinho e foi atropelado.

Chegou na ambulância do Bombeiros.

Dois das no "politrauma" e baixou a enfermaria.

A aparência era das piores, ofereceram um sabonete, indicaram o banheiro.

Foram 2 horas de banho.

A zelosa e exemplar enfermeira da manhã (tem um capítulo sobre ela depois desse) arranjou um roupão do hospital.

Que alegria.

Vestiu a roupa, deitou-se na cama, com as dificuldades das imobilizações e disse algo que me tocou profundamente;

- Nunca fui tão bem tratado na vida. Fizeram curativo, me chamaram de senhor, me deram essa cama aqui com vocês, me deram essa roupa, tem mais de 20 anos que não tenho uma roupa limpa.

Olhou pra mim e disse
- só falta a barba.

Pronto, dei meu aparelho de barba e as lâminas.

Imediatamente levantou e fez a barba e outro banho.

Conversamos enquanto esperávamos o lanche da tarde.

Ele foi casado, a mulher arranjou outro, começou a beber, drogas, perdeu o emprego, perdeu tudo, foi para a rua, está assim a 20 anos.

Chega o lanche, come, recolhe o que os outros não comeram. Come tudo.

Agradece a cada um de nós, como se fôssemos os responsáveis por sua alimentação.

- Essa roupa me faz um cidadão.

Contou dos espancamentos que sofre, dos assaltos, da crueldade, da briga por comida, das pessoas que ajudam, das que "jogam água quente" ou "que botam comida estragada".

- Minha preocupação é como vou voltar para a rua e manter a ferida limpa.

Eu e outros ficamos impressionados como ele se sentia importante, como ele se sentia em um paraíso.

- Puxa estou comendo a mesma comida que o professor (eu) e o engenheiro (Assis).

No quarto fez a cirurgia e saiu, desesperado, pedindo para ficar ali.

Mas o pijama ele levou como brinde e recordação dos momentos de cidadão.

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