quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

012_Enfermaria 204_ Pode desabafar

Terapia de grupo.

Eram dez homens vivendo ali, naquela enfermaria,em dez camas hospitalares, com pouco espaço entre uma e outra, que não havia segredo.

Podíamos fingir que não ouvíamos, ou simplesmente saíamos para andar, para ir ao banheiro, ou dar uma volta no corredor, para darmos um pouco de privacidade ao paciente do lado, quando a situação familiar ou pessoal pedia.

O parente saia, o paciente falava...

Ouvíamos as mais loucas , mais tristes e as mais engraçadas situações.

Depois de quase duas horas falando de sua vida conjugal, do marido que batia nela, e ela saia com outros e ele batia mais ainda, até que resolveu se vingar dele, usando dos medo que ele tinha sobre tudo que pudesse parecer magia.

Ela colocou sonífero no feijão dele. Ele dormiu. Ela raspou os pelos daquela região próxima do bilau. Jogou molho de tomate em volta. Aguardou que ele acordasse.

Quando o "marido" acordou, ainda meio sonolento, ela queimou os pelos, que deixou o quarto impregnado com aquele odor característico. O marido arregalou os olhos e ela jogou no braseiro um salchição dizendo que ele agora era "Mariazinha".

Instintivamente o marido acreditando naquele ritual macabro, passou a mão no bilau. Nada sentiu. Mas a mão suja de sangue ou molho de tomate, saiu desesperado e chorando, correndo de casa para a rua, pedindo socorro.

Até hoje não voltou.

De repente ela parou a narrativa e disse:

- Não sei por que estou contando essa coisa para vocês.

Aí alguém lá do fundo gritou:

- Pode desabafar, isso alivia a alma.

Risos gerais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário